Este trabalho trata da escrita para a linguística. Conforme Ferdinand de Saussure (2013, p.58), a escrita existe apenas para representar a língua e “o objeto linguístico não é definido pela combinação da palavra escrita e da palavra falada; somente esta última constitui tal objeto”. Reflete-se aqui sobre a afirmação de uma língua constituída apenas pela fala e como a escrita é reduzida à representação desta. Ao tentar tornar a escrita mais do que uma representação, os estudos de Émile Benveniste (2005-2006) tornam-se referência aqui por pensar em um locutor que, ao se apropriar da língua, tenta se constituir como sujeito. Tentativa essa que pode ser por meio da escrita, como afirma Endruweit (2006) ao tratar da escrita uma possibilidade enunciativa. O objetivo deste trabalho é, ao aproximar a relação da escrita com a língua, compreender o que é o sistema interno da língua e como a escrita se consolida também como ato enunciativo. A fundamentação teórica é o Curso de Linguística Geral (2013), de Ferdinand de Saussure; os artigos de Émile Benveniste em Problemas de Linguística Geral I e II (2005-2006) e, a tese de doutorado A escrita enunciativa e os rastros da singularidade (2006), de Magali Endruweit. A metodologia é um estudo teórico das obras anteriormente citadas. Ao problematizar a concepção de escrita do Curso de Linguística Geral (2013) como “estranha ao sistema interno” da língua (2013, p.59) e que obscurece a nossa visão do que seria a língua, chega-se, parcialmente, à exclusão do sujeito na escrita. Os resultados parciais deste trabalho permitem concluir que, embora os estudos de Benveniste não tratem exclusivamente da escrita, subjazem às suas reflexões enunciativas noções que sustentam a escrita como ato enunciativo e que a escrita é, assim, uma diferente possibilidade de quem utiliza a língua poder ser alguém na e pela linguagem.