A capoeira é uma manifestação cultural que abriga em suas várias dimensões, um misto de dança, luta, jogo e música. O presente trabalho, que é parte de minha pesquisa de mestrado em curso, desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Linguística, busca compreender a constituição de um sujeito capoeirista, por meio do jogo que a capoeira contemporânea instaura, da perspectiva agonística, entre discursos do cuidado de si e discursos de esportivização. No limite, cabe pensar como esses discursos solicitam formas de subjetividade diferentes para o capoeirista – tendo como cenário o quadro que se forma com o movimento de salvaguarda da capoeira, os projetos de lei que tramitam na Câmara e no Senado e a tentativa do Conselho Nacional do Esporte em declarar a capoeira como esporte – a partir de formas de governo distintas numa relação entre o governo de si mesmo e a governamentalização neoliberal, conforme descritas por Michel Foucault. Para tanto, a pesquisa se apoia na arqueogenealogia foucaultiana e em princípios etnometodológicos – com etapas de análise bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas abertas com mestres de capoeira dos municípios de Blumenau e Florianópolis. Minha hipótese é de que a capoeira contemporânea se apropria do discurso do esporte para afastar a imagem discriminatória, resultado do período de marginalização, porém recusa o processo de regulamentação proposto pelas diferentes ações das políticas públicas. A vinculação da capoeira ao esporte no âmbito do discurso sugere um movimento de resistência e uma tentativa de escapar a delimitação da lógica neoliberal de produção dos sujeitos.