Fundamentação teórica: O processo de renovação das conjunções, que leva ao desenvolvimento de novas conjunções nas línguas a partir de itens lexicais, foi identificado por Meillet (1915, p. 14-17). como "gramaticalização". Trabalhos em diversas línguas (HOPPER; TRAUGOTT, 2003) analisam o processo de emergência de conjunções a partir de elementos lexicais, como advérbio e nome, sob uma perspectiva de gramaticalização, segunda a qual itens ou construções gramaticais têm como fonte entidades lexicais.

Objetivo: O objetivo deste trabalho é apresentar uma descrição do processo de gramaticalização de conjunções em libras a partir do estudo da multifuncionalidade do sinal MOTIVO.

Metodologia: O córpus foi constituído a partir de vídeos produzidos por sujeitos surdos e publicados em blogs sinalizados: 10 vídeos em que 36 ocorrências do sinal MOTIVO foram registradas. Todas as ocorrências foram anotadas através da utilização do programa ELAN. Nossos parâmetros de análise foram: categoria gramatical do sinal (nome, advérbio ou conjunção) e valor semântico (causa, explicação ou conclusão).

Resultados: Nossos resultados mostram que o sinal MOTIVO é usado na libras com função de nome, num SN, de advérbio, como um operador argumental, e de conjunção, relacionado a valores de causa/explicação/conclusão (LAKOFF, 1971; SWEETSER, 1990), indicando um processo de gramaticalização como propõem Hopper e Traugott (2003), para as línguas orais, e Wilcox (2004) e Pfau e Steinbach (2011), para as línguas de sinais. Nossos dados revelam que (1) o sinal MOTIVO é usado como um nome dentro de um SN; (2) o mesmo sinal retoma enunciados precedentes para introduzir uma conclusão, funcionando como um advérbio/operador argumentativo; e (3) MOTIVO é usado como conjunção para conectar dois estados de coisas, em que uma relação causal é estabelecida. 

Conclusão: A multifuncionalidade de MOTIVO é interpretada tendo em vista um cline de gramaticalização, em que um sinal lexical passa a desempenhar também funções gramaticais.