Este trabalho apresenta uma discussão sobre o e ensino da escrita em língua portuguesa por professores timorenses. O português, a partir de 2002, foi escolhido como língua oficial e de instrução em Timor-Leste, juntamente com a língua tétum. Seu ensino, contudo, enfrenta obstáculos decorrentes, dentre outros fatores, da sua característica de língua não materna para a grande maioria dos timorenses e do seu uso reduzido em meio às demais línguas que convivem no país. Nesse contexto, temos como objetivo realizar uma investigação acerca das propostas metodológicas para o ensino da escrita em português, presentes em diferentes materiais didáticos, que os professores timorenses consideram apropriadas ao ensino básico do país, bem como analisar as razões que os levam a efetuar tais escolhas. Para tanto, recolhemos enunciados escritos produzidos por esses sujeitos no âmbito de um curso de formação realizado na Universidade Nacional de Timor-Lorosa’e (UNTL). A metodologia que utilizamos para análise dos enunciados fundamenta-se na teoria do dialogismo desenvolvida por Bakhtin [Volochínov] (2010; 2011). Dessa linha teórica elegemos como categorias de análise, conceitos componentes do contexto extraverbal: conceito de cronotopo, horizonte temporal e espacial – tempo (histórico) e espaço (social) e de entonação, avaliação social do sujeito que enuncia em relação ao objeto sobre o qual ele enuncia. Podemos afirmar que as escolhas operadas pelos docentes foram orientadas pelos gêneros socialmente reconhecidos na sociedade timorense e pelos temas relacionados à realidade desse país. Tal constatação nos permite afirmar que, ainda sem um conhecimento claro sobre o conceito de gêneros discursivos, provavelmente resquício de uma educação pautada na estrutura da língua, os sujeitos participantes desta pesquisa seguiram, em suas escolhas, a premissa cunhada por Bakhtin (2011) acerca da ordem metodológica para o ensino da linguagem, a qual deve partir dos usos que os sujeitos dela fazem nas situações reais de comunicação.