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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
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REFLEXÕES SOBRE A FIGURA E O LUGAR DO NEGRO NO SEGUNDO REINADO BEM COMO NA POÉTICA ABOLICIONISTA DE CASTRO ALVES

Autores:
Emmeliny de Almeida Rufino (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)

Resumo:

No Segundo Reinado os literatos e artistas eram financiados pelos monarcas mecenas. Esse entrelaçamento entre monarquia e poetas, no Romantismo, fazia com que a literatura passasse a construir e/ou resgatar imagens, símbolos e ideologias que ajudassem a estabelecer discursos e as verdades necessárias da hegemonia do sistema de governo monárquico. O negro não cabia no mito nacional dessa construção apesar de ser quantitativamente maioria da população. Alicerçadas nos estudos de Schwarcz e Starling (1998, 2015), bem como de Alencastro (2018), Mérian (2008), Martins (1996), Haddad (1953), Fonseca (2018) e Senna (2008) refletimos criticamente a forma pela qual Castro Alves, conhecido como poeta dos escravos, reivindicou literariamente o lugar do negro na sociedade do século XIX tendo-o, como parte desta história; como ser humano e cidadão. Mais do que entender como se deu essa luta questionaremos como o poeta baiano caracterizou o negro na sua literatura dita abolicionista. Dada a nossa análise inferimos que embora objetivasse alardear o sofrimento dos escravizados e a injustiça do comércio destes seres humanos, Castro Alves o fazia da sua condição de burguês embranquecido. O lugar de fala não é do negro. O poeta se expressa por este fora de um pertencimento racial e isso dá a poesia um tom distanciado mesmo que a produção poética assuma um tom de quase perfeita verossimilhança. Na produção poética social – abolicionista – de Castro Alves é inegável a presença de resquícios ideológicos, visões de que o negro carrega uma submissão natural sendo assim um bom selvagem. Supomos que o poeta tenha se apropriado da figura do negro vítima em face do seu status social privilegiado e da influência da obra Bug-Jargal de Victor Hugo. Essa constante de inferioridade endossa um discurso literário que já circulava na sociedade escravocrata do Segundo Reinado e que foi reverberada por Castro Alves.