“TOMA TENTO, AFONSO!": NOTAS ÍNTIMAS E ESPAÇO PÚBLICO NA BELLE ÉPOQUE CARIOCA | Autores: Fátima Maria de Oliveira (CEFET/RJ - Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca) |
Resumo: Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) manteve desde muito jovem o hábito de perambular pela cidade em busca de experiências de vida que lhe permitissem redimensionar a percepção sobre si mesmo e sobre o espaço público da urbe onde realizaria sua formação ética e estética, a fim de cumprir o propósito de se tornar escritor. O Rio de Janeiro, nos primeiros anos do século XX, é historicamente marcado por uma política de modernização para atender ao desejo das elites republicanas de torná-lo uma urbe civilizada, às custas de um processo de negação da identidade colonial e de importação de um modelo paradigmático de cidade moderna por excelência, que seria Paris. Como consequência, instaurou-se uma política de apagamento da memória coletiva e de silenciamento de camadas sociais subalternas, entre as quais se encontravam os negros. Lima Barreto, descendente de negros e jovem aspirante ao mundo das letras, irá conviver com violentas tensões no espaço público e lidar com experiências de medo e deslumbramento para dar forma a seu projeto de autoafirmação. Para tanto, o jovem escritor irá conjugar o exercício do espaço urbano com a prática de anotações íntimas em folhas soltas e cadernetas, potencializando-as como uma espécie de “laboratório de introspecção” e “método de trabalho” (LEJEUNE, 2008) para definir seu lugar de cidadão e intelectual. As notas íntimas e outros papeis de interesse pessoal do escritor foram reunidos postumamente, pelo jornalista e historiador Francisco de Assis Barbosa, em um volume intitulado “diário íntimo” (BARBOSA, 1961). A partir de registros nesse “diário”, este trabalho pretende acompanhar as “identificações” (HALL, 2002) que vão sendo construídas e reconstruídas pelo jovem escritor negro, como tentativas de autoafirmação de seu pensamento e inscrição de seu corpo, na cena pública da qual se sentia excluído, pela obsessão imaginária de uma época dominada pelo ideal europeu de elegância, brancura e beleza.
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