O contraste entre a língua escrita e a língua falada pode ser uma das maiores evidências de mudanças linguísticas notadas pelos falantes, principalmente na fase de escolarização. Quando se trata do português, língua oficial de nove países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e língua hegemônica no Brasil e em Portugal, essas mudanças têm sido temática recorrente no que diz respeito ao ensino de língua materna.
Considerando as diferenças no ensino de língua materna nesses países, especialmente o de gramática, essa pesquisa tem como objetivo comparar os livros didáticos (LD) de Língua Portuguesa (LP) utilizados na rede pública do 1° a 3° ano do Ensino Médio no Brasil e no 10° a 12° anos do Ensino Secundário em Portugal, mais especificamente, no que diz respeito ao complementos verbais preposicionados: objeto indireto, complemento relativo e o complemento oblíquo, levando em consideração os documentos oficiais que regem o ensino de gramática e o debate sobre a sistematização da nomenclatura gramatical brasileira (NGB) e portuguesa (NGP).
Para tanto, nos apoiamos em Bechara (2009), Cunha e Cintra (1985), Mira Mateus (2003) e Neves (2012). Os resultados parciais obtidos a partir do levantamento bibliográfico das gramáticas normativas e descritivas reafirmam a hipótese inicial de que existe uma ausência de consenso sobre os critérios que definem o objeto indireto e o complemento relativo, reiterando a falta de sistematização sobre esse objeto. Esses dados são relevantes para analisarmos como essa falta de sistematização se apresenta nos livros didáticos de Língua Portuguesa no Brasil e em Portugal.