Este trabalho objetiva descrever e explicar o sentido global do miniconto Direitos de propriedade, de Marina Colassanti, cuja forma de expressão foi, por muito tempo, relegada à estilística, aos estudos retóricos e ainda pouco foi examinada pelos estudos enunciativos e argumentativos. Por esse motivo, a partir da evocação dos encadeamentos argumentativos − que constituem o sentido global do referido discurso − e da comunicação dos aspectos argumentativos − que representam a significação de suas entidades linguísticas −, serão identificadas a Pessoa Enunciativa e a atitude discursiva do locutor. Tripé que constitui a chamada unidade de discurso, o conteúdo argumentativo (1), a atitude discursiva do locutor (2) e a Pessoa Enunciativa (3) são ferramentas da Teoria dos Blocos Semânticos e da Teoria Argumentativa da Polifonia (cf. CAREL, 2011) que permitem não apenas descrever a natureza paradoxal de determinadas formas do discurso, mas também explicar em que medida essas formas paradoxais são forçadas a se doxalizarem semanticamente na língua para, então, serem compreendidas. Ainda com resultados incipientes − uma vez que este trabalho faz parte da Tese de Doutorado do autor (2018) − é possível afirmar que, desse procedimento teórico-metodológico, pode-se observar a enunciação marcada na língua e a produção de arte em nível de discurso, a partir, simplesmente, do entrelaçamento de palavras.