Os escritos do Círculo de Bakhtin passaram a ser discutidos em nosso país a partir, principalmente, da década de 1980 e, no que diz respeito ao ensino de língua, influenciaram o surgimento de uma prática que Geraldi (1984, 1997) chamou análise linguística (AL). Essa prática, ancorada nos pressupostos bakhtinianos, amparada na concepção dialógica de linguagem, prioriza a reflexão sobre os recursos linguísticos e semióticos empregados na construção de textos-enunciados, sempre levando em conta a situação interativa que motivou sua produção. No entanto, embora seja discutida desde os anos de 1980 e figure em documentos pedagógicos parametrizadores, para muitos professores ainda é um desafio efetivar a AL em sua prática pedagógica, o que decorre principalmente da falta de subsídios teóricos e práticos para alicerçar um trabalho que considere reflexões sobre a língua dentro de situações de uso. Preocupada com tal realidade, esta pesquisa voltou seu olhar para um curso de Letras de universidade pública do Sul do Brasil, com o objetivo de identificar a concepção de linguagem que norteia a formação inicial do professor de LP e o espaço da AL ao longo da graduação. Teoricamente, as discussões amparam-se nos estudos do Círculo de Bakhtin, em Geraldi (1984, 1997) e em Franchi (2006[1987]). Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, interpretativista, inscrita no campo da Linguística Aplicada, que contou com a análise do Projeto Político Pedagógico e de dez planos de ensino de disciplinas do curso, além de uma entrevista com acadêmicos do último ano da licenciatura. Os resultados apontam para um curso cuja compreensão de linguagem oscila entre a concepção de linguagem como instrumento de comunicação ou como forma de interação e o espaço da AL é restrito a uma única disciplina, de modo que os acadêmicos do último ano afirmam não saber como efetivar essa prática em sala de aula.