Neste trabalho, apresentamos um estudo experimental sobre nominais nus no Português Brasileiro (PB) e no Caboverdiano (CV). Vários estudos sobre o PB já mostraram que o Singular Nu (Snu) é um sintagma bastante produtivo. Dessa forma, além do plural, o PB admite sentenças com nomes contáveis na forma singular:
(1) João tem mais casa que Pedro.
Estudos experimentais já mostraram que a sentença acima apresenta pelo menos duas leituras: uma cardinal e uma leitura de volume, diferentemente do plural, que apresenta apenas a cardinal. Sentenças como (1) são agramaticais no Inglês e, mais ainda, em outras línguas românicas. Por outro lado, no CV, um crioulo do Português Europeu, o singular nu é uma estrutura bastante produtiva, enquanto o plural é restrito a determinados contextos. Ademais, a tradução da sentença acima para o CV, segundo Pires de Oliveira & Martins (2017), somente permite leitura cardinal:
(2) João tem mais kasa ki Pedro.
O objetivo deste trabalho então é verificar experimentalmente a interpretação do Snu e do plural nessas duas línguas, e assim buscar entender melhor a semântica dos nominais quanto à distinção contável-massivo. Para isso, aplicamos dois testes: Aceitabilidade (Likert Scale (1-7)); e Interpretação (volume; número; leitura partitiva).
Quanto ao teste de aceitabilidade, os resultados mostraram que o Snu no PB não é tão aceito quanto esperávamos (média de 3,5). Ainda, houve também uma aceitabilidade maior do que esperada para o plural no CV (média de 5,5). Quanto ao teste de interpretação, o Snu no PB aceitou tanto leituras de volume quanto cardinal, além de leitura partitiva. Já o Snu no CV só foi interpretado por cardinalidade, confirmando nossas hipóteses iniciais. O plural nas duas línguas só admitiu comparação por número.
Os resultados suportam a hipótese de que o Snu no CV é neutro para número, enquanto no PB seria um 'kind'.