A questão da Ideologia permeia toda a teoria bakhtiniana. Cindida em Ideologia Oficial e Ideologia do Cotidiano, sendo a primeira aquela que habita os meios formais da superestrutura, e essa a que convive com os sujeitos na base, na infraestrutura, o Círculo coloca a ciência das ideologias como uma nova forma de fundamentar a questão das ciências humanas. Apesar de haver controvérsias entre os estudiosos bakhtinianos, este estudo, sob a orientação do Prof. Doutor Luciano Vidon, mostra como as obras retratam que a subjetividade se dá numa relação de certa dependência da ideologia oficial, sendo submissa a essa em última instância. O ser, em todo o seu existir-evento, não tem total ciência e consciência dos efeitos que a ideologia (ou as ideologias de classe) traz em todas as camadas da vida, ao refletir e refratar a ideologia dominante. Nós somos efeito (consciente e inconscientemente) das ideologias que perpassam nosso dia a dia, seja nas interações familiares e amigáveis do cotidiano – a ideologia do cotidiano; seja em nossas relações nas esferas mais instituídas – a ideologia oficial. Forças centrípetas e centrífugas se entrecruzam na produção dos memes, esse novo fenômeno discursivo das redes sociais. Todos os pequenos atos do dia a dia são embriões ideológicos que vão dar forma para os campos ideológicos oficiais. Vamos procurar demonstrar, neste estudo, como a ideologia do cotidiano se mistura com a ideologia oficial através de três memes que retratam posicionamentos ideológicos a respeito da questão LGBT. Para isso utilizaremos a teoria do Círculo de Bakhtin e uma breve história da arte da palavra ideologia. A (in)conclusão é de que a ideologia não oficial acaba por carnavalizar ao se tornar uma contrapalavra da ideologia oficial.