Este trabalho parte das discussões sobre o biopoder e a biopolítica, notadamente aquelas que aparecem nos cursos O Nascimento da Biopolítica e Em Defesa da Sociedade, ministrados na década de setenta do século XX por Michel Foucault, e de suas problematizações contemporâneas - notadamente, as de Agamben sobre a vida sacra e as de Butler sobre a vida precária - para analisar as micro-narrativas das pessoas que vivem com hiv, materializadas em postagens do Projeto The Aids Memorial. Inicialmente, volto-me para a descrição do dispositivo da aids e do dispositivo crônico da aids, produzido segundo enunciados e práticas de precarização da vida e de cisão entre modalidades de vida, relacionados à medicalização, à bioascese e aos racismos indiretos. Interessa pensar esses dispositivos a partir das da ambiguidade entre biopolítica e tanatopolítica e de como opera o poder soberano de matar ou a biopolítica de fazer viver de acordo com um controle estrito das subjetividades e das corporalidades, precarizando algumas e colocando em funcionamento um jogo em que corpos e subjetividades não-heteronormativas, negras, generificadas têm sua humanidade colocada em xeque. Dessa perspectiva, o Projeto acaba por estabelecer a possibilidade de pensar em formas de vida, numa economia político-discursiva cotidiana de assunção positiva (em sua ambiguidade) das pessoas que vivem e viviam com hiv, dando visibilidade e voz ao sujeitos que, no limite da morte, colocaram-se na cena pública em atos de resistência e de produção de outras memórias sobre a aids e o hiv.