A meta do estudo é contribuir para a compreensão de uma metodologia de alfabetização em que a realidade social e cultural das crianças sejam o ponto de partida e de chegada da prática político-pedagógica. O objetivo da pesquisa é aprofundar o conhecimento da natureza do material textual trabalhado por uma professora alfabetizadora com base no conceito de gêneros do discurso de Bakhtin (1992). Tal conhecimento é observado e compreendido tomando como base o caderno de uma menina de sete anos, quando cursava, a antiga 1ª. Série, hoje 2º. Ano do Ensino Fundamental, aluna do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp/UERJ. O trabalho realizado para alfabetizar nesta escola vem sendo pesquisado por Goulart desde 1992 (Pacheco, atual Goulart, 1992, 1997). Além de Bakhtin, referência-chave para a análise, são utilizados os seguintes autores: Viñao Frago, Fiorin, Chartier e Goulart. O trabalho alfabetizador da escola se destaca porque não são utilizadas cartilhas e outros materiais especificamente didáticos; as crianças se alfabetizam com textos que circulam nos espaços sociais, levados pela professora e pelas crianças, além de outros que chegam à sala de aula. Metodologias de trabalho como essa vêm sendo reconhecidas pela abordagem discursiva com que tratam o processo de ensino-aprendizagem da escrita. Realizamos uma minuciosa descrição analítica da organização geral do caderno, primeiramente, para em seguida proceder a um levantamento e análise do conjunto de textos trabalhados e das atividades a eles relacionadas. Observamos que os aspectos analisados no processo de alfabetização, via caderno, englobam tanto a ampliação do conhecimento discursivo dos alunos sobre variados temas, inclusive voltados para saberes da matemática, como, no contexto dos sentidos dos textos, aspectos relacionados ao conhecimento do sistema alfabético de escrita.