Este trabalho refere-se a um exercício de análise do discurso com viés foucaultiano no qual abordamos o que ficou conhecido como “show de horrores”: a votação na Câmara dos Deputados do processo de impeachment da ex presidenta Dilma Rousseff em 2016. A sessão deveria julgar se havia ocorrido crime de responsabilidade pela prática das chamadas “pedaladas fiscais”, mas os argumentos foram os mais bizarros possíveis, utilizando como justificativas questões predominantemente familiares e religiosas. O episódio esdrúxulo serve de base para este artigo que, de certa forma revive o início da Análise do Discurso de linha francesa que foi fomentada também por motivações políticas. Em nossa análise, seguindo as pegadas de Foucault, buscaremos fazer a historicidade de todo aquele processo para interpretar quais discursos influenciaram a decisão de os deputados votarem a favor ou contra no faccioso julgamento. Procuraremos entender em que formações discursivas se encontram os enunciados produzidos pelos sujeitos de esquerda e pelos sujeitos de direita. Assim, utilizando um método arquegenealógico de investigação, teremos como objetivo entender de que maneira aquela sessão, vista como um acontecimento, relaciona-se com uma rede de memória e um arquivo. Almejamos elucidar fatores de relações de poder que contribuíram para a construção dos posicionamentos políticos dos sujeitos inseridos naquela conjuntura sócio-histórica. Enunciados conservadores e progressistas, poder e resistência, noções imbricadas que revelam como os efeitos de sentidos são resultados de uma vontade verdade.