Carlos Drummond de Andrade, cuja obra revela as relações entre indivíduo e sociedade, possui características singulares que fundamentam no fazer poético a análise social e existencial dos homens, promovendo a construção de uma identidade enunciativa que o legitimou, segundo seu posicionamento político-social e cultural, especialmente nas produções até a década de 40. Esse posicionamento é expandido em tema, forma e perspectiva, a partir da segunda metade do século XX, com a construção de discursos que sugerem uma concepção da história em que se entrecruzam o particular e o coletivo, evocados e enunciados por uma produção memorialística. Assim, propomo-nos à análise dessa prática discursiva com vistas a evidenciar nos poemas da parte IV de Claro Enigma (1951) as provas retóricas que manifestam o verossímil na intersecção com a rememoração que articula  acontecimentos, personagens e lugares sob uma percepção de realidade. O presente trabalho, alicerçar-se-á nos estudos aristotélicos de retórica e poética, na perspectiva da Nova Retórica de Perelman & Olbrechts-Tyteca (2014), além de Meyer (2007), Ferreira (2010) e Tringali (2014), para que possamos identificar o contexto e o conjunto de características retóricas que constituem o discurso. Recorreremos, ainda, aos estudos sobre memória e história de Le Goff (2014), Ricoeur (2014) e Bosi (1994) para amparar a análise de como as relações entre memória, história e sociedade emergem do discurso drummondiano, vislumbrando, assim, as fronteiras entre o dizer e o ser.