O objetivo do trabalho é verificar uma hipótese sobre a função da écfrase nos livros de viagens de Osman Lins: Marinheiro de Primeira Viagem, escrito por ocasião de sua permanência na Europa, em 1961; e La Paz existe?, escrito junto com a escritora Julieta de Godoy Ladeira, sua esposa, relatando a viagem ao Peru e à Bolívia, em 1977. Ambas as obras, sem deixarem de ser livros de viagens são também ensaios, ficções, livros de reflexão e de ação, cruzamentos de discursos, de vozes e de gêneros textuais. São formas de uma literatura que inaugura a mais absoluta modernidade, valendo-se da transformação de um gênero tradicional. Neles, essa transformação se opera pela escrita: multiplicidade textual, dupla enunciação, mistura de gêneros, polifonia, carnavalização: modernidade, mas também uma forma de leitura do mundo. Múltipla como o próprio mundo a ser lido.
Para a nossa comunicação, analisamos as diferenças entre um e outro livro no tratamento do visual, nomeadamente a presença da écfrase, considerada como descrição de objetos artísticos ou então como descrição artística de objetos, a partir das teorias de Rifaterre e Mitchell, reformuladas por Agudelo, Soto, Pimentel, Albero; e a abordagem crítica da écfrase na narrativa osmaniana, de Fritoli. Procuramos descobrir como essa descrição age nos textos em que é mais esperável, transformando a observação (estética em um, sociológica no outro) em ação literária. A hipótese do nosso trabalho é que no primeiro, livro de aprendizagem cultural, a écfrase transforma a linguagem literária pela ação da leitura poética das imagens artísticas, fazendo virar artística toda e qualquer descrição; enquanto no segundo, livro de testemunho e até mesmo de ensino sociológico, é a visão dupla, ensaística e poética, que transforma o relato em romanesco, sem abandonar a sua função de revelador da realidade.