Esta pesquisa se vincula ao Projeto Retratos Linguísticos de Roraima, dentro do qual se desenvolvem várias pesquisas sobre aspectos linguísticos de Roraima. Nos últimos anos, verifica-se que se intensificou o contato linguístico entre Português e Espanhol, considerando a crise social e econômica na Venezuela e o intenso fluxo migratório de venezuelanos para o lado brasileiro. Dado o número expressivo de imigrantes, falta de qualificação para o trabalho e o não domínio da Língua Portuguesa, observa-se que, especificamente, as venezuelanas têm buscado na prostituição uma forma de ocupação. Na comercialização do sexo, essas mulheres ganharam notoriedade por anunciar seus serviços em alta voz e em via pública, pronunciando em Espanhol o valor de R$ 80 reais (“ochenta”). Consequentemente, passaram a ser conhecidas como as “ochentas”.
Este trabalho objetiva mostrar a palavra “ochenta” como um neologismo próprio do Português falado em Roraima e caracterizar seus contextos sociolinguísticos de uso. A pesquisa assume os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista e da Lexicologia, especificamente Empréstimo. Para tal, utiliza como suporte teórico: Labov (1972), Calvet (2008) e Coelho et al. (2015).
Coletou-se material para esta pesquisa em postagens em redes sociais (webcomentários e memes) e reportagens jornalísticas publicadas em ambiente virtual. Identificaram-se três variações gráficas para a mesma palavra: “otchenta”, “ochenta” e “oitchenta”. Conclui-se que o fenómeno linguístico ocorreu em vista de a palavra se tratar de um empréstimo da Língua Espanhola. A variação advém com um sentido pejorativo, comum nas dominações referentes a quem vende o próprio corpo. Em contexto de textos jornalísticos/formais a palavra tem sua grafia igual à Espanhola e não se apresenta comumente nos títulos das matérias, apenas em seu corpo, sempre grafadas com aspas ou em itálico.