Este trabalho tem por objetivo apresentar o resultado parcial de nossa pesquisa no doutorado em Estudos de Linguagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso, em que o objeto de estudo é a obra “Água Viva”, romance de Clarice Lispector, de 1973. A escritura de Lispector é uma escritura multifacetada, inovadora, criativa e transgressora tanto do ponto de vista da estrutura dos gêneros quanto pelo modo de escritura não acadêmica, associada aos modelos tradicionais dos anos 40 a 70. Tal escritura ainda hoje é revolucionária, justamente por seu modo de expressão, modo de dizer, como definimos em outro trabalho: uma "escritura entrelinhar", ou melhor, uma escritura lispectoriana. Dessa escritura multiforme, temos delineado para o desenvolvimento da pesquisa a orientação teórico-metodológica dos Estudos da Crítica Textual - passando pelo período de gestação e análises de cotejo das edições da obra -  e dos Estudos Literários, bem como Linguísticos - partindo dos estudos de Bakhtin e Barthes em relação ao texto literário e sua interpretação. Trazemos o escopo da Crítica Textual porque se ocupa em observar se o texto sofre modificações ao longo de sua transmissão, não se tratando especificamente de uma restituição à genuinidade “perdida” da obra, mas de considerar, em nossa análise, a forma ou versão original publicada, autorizada pela autora, com “suas palavras próprias” como autora-criadora. E, a partir do texto-base e das perspectivas assumidas nesta pesquisa, construir uma espécie de arquitetônica histórica e estético-filosófico-literária, de "ler" e interpretar melhor o processo criativo-artístico de Lispector em “Água viva”, especialmente, e de sua obra, fornecendo ao leitor instrumentos indispensáveis para se compreender novas chaves de leitura, tanto da obra em cena quanto de outros textos artísticos. E, por fim, tecemos as considerações sobre a relevância deste trabalho para os estudos literários e linguísticos.