Rasuras do Eu: notas sobre a dimensão autobiográfica na cena contemporânea | Autores: Alessandra Leila Borges Gomes Fernandes (UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana) |
Resumo:
- Este trabalho é fruto de uma reflexão acerca de recursos e estratégias criativas usadas por uma linhagem de poetas e artistas contemporâneos que tende a misturar autobiografia com criação, estabelecendo uma confusão proposital entre vida e escrita. Trata-se de subjetividades em trânsito ou rasuradas, pois emergem de um forjamento de eus, usando gestos, palavras, ações, emoções e mesmo as fragilidades experenciadas, no intuito de reconfigurá-las, no jogo dinâmico do texto-leitor. Nosso objetivo é analisar, comparativamente, a interferência desse autobiográfico forjado, que se multiplica em vários eus, produzindo uma ideia de intimidade entre autor e público. Nesse processo de identificação, são reconfiguradas as perspectivas de "autenticidade" e "sinceridade", fazendo com que o público esqueça, ainda que momentaneamente, as máscaras que acompanham o jogo criativo da linguagem. O íntimo ou confessional surge como resultante de uma manipulação de dados autobiográficos, não exatamente a partir da correspondência do tripé autor-narrador-personagem, conceituada por Lejeune (2003), mas como uma construção feita a partir de uma seleção criativa, que tende a provocar uma pulverização de eus simultâneos. Para este recorte, analisaremos os recursos e estratégias enunciativas usados na construção dessas subjetividades ou eus biográficos em textos de poetas portugueses como Al Berto (1948-1997) e Maria do Rosário Pedreira (1959), da poetisa brasileira Ana Cristina Cesar (1952-1983), do letrista Renato Russo (1960-1996) e da artista francesa Sophie Calle (1953).
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