Práticas linguísticas e identidades em trânsito no contexto da Educação de Surdos
Em tempo de discursos cada vez “mais favoráveis” à educação bilíngue para surdos e de maior visibilidade das línguas de sinais no mundo inteiro, há ainda muitos desafios a serem vencidos no que se refere à educação de surdos no Brasil. Com o intuito de refletir sobre alguns desses desafios, partimos do pressuposto que contextos definidos como bilíngues são contextos, na verdade, sempre multilíngues, já que, sabemos, “uma língua” traz, no seu interior, muitas outras (César & Cavalcanti, 2007). Observa-se, no entanto, uma tendência de simplificação no modo como os complexos repertórios comunicativos (Rymes, 2014) de alunos surdos são percebidos em muitos ambientes escolares brasileiros e mais especificamente nas práticas de ensino de português para surdos. A partir de dados gerados em um grupo focal, analisamos as representações tecidas por professores surdos sobre suas identidades em interface com os repertórios comunicativos que acionam em suas interações sociais e educacionais. As reflexões apontam para a necessidade de se repensar a educação bilíngue de surdos a partir de projetos mais sensíveis à pluralidade cultural, social e linguística do mundo atual, considerando-se o potencial heteroglóssico das práticas sociais de linguagem.
Palavras-chave: surdos – identidades – práticas translíngues