Esta comunicação relata resultados de estudos que integram o projeto Indeterminações de fronteira categorial: desafios para a elaboração de uma gramática de referência do português brasileiro, desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Funcionalismo (UFC/CNPq). O projeto objetiva identificar e sistematizar, por meio de uma pesquisa bibliográfica em gramáticas, teses e artigos científicos, indeterminações nos limites categoriais associados à fluidez categorial e aos processos de mudança linguística, tais como os de gramaticalização. O estudo parte de um levantamento dos fundamentos epistemológicos da categorização linguística na tradição gramatical e na Linguística, particularmente nas teorias de orientação funcionalista (GIVÓN, 1995) e cognitivista (TAYLOR, 1995). Nesta comunicação, apresentamos dados sobre a dificuldade de classificação de itens como pertencentes à classe dos substantivos em construções com verbo-suporte, locuções conjuntivas e prepositivas, onde eles têm diminuída a propriedade de introduzir ou retomar referentes, isto é, sua referencialidade, característica própria dessa classe de palavras. Assumindo orientação teórica funcionalista, após esse levantamento das principais regiões de indeterminação de fronteira categorial do substantivo, fazemos considerações gerais e sugestões sobre a elaboração e a utilização de gramáticas de língua portuguesa, com atenção para a diferença entre uma concepção de língua estável e homogênea, que predomina nas gramáticas tradicionais, e uma concepção de língua heterogênea, adaptativa, maleável e sensível às pressões estruturais, cognitivas e discursivas.