Propôs-se verificar com quais características se mostra a acurácia ortográfica na escrita de crianças em início de alfabetização. Os dados foram extraídos de textos de crianças que, à época da coleta, frequentavam o último ano da educação infantil e os dois primeiros anos do ensino fundamental em escolas públicas de dois municípios do interior paulista. Como resultados, observou-se a seguinte distribuição: o percentual de acertos foi sempre (e estatisticamente) muito maior do que aquele verificado em qualquer tipo de erro (omissão, transposição, substituição); o percentual de erros dependeu da classe fonológica = fricativas (17%) > soantes (7%) > oclusivas (4%); também o tipo de erro dependeu da classe fonológica, uma vez que, nas omissões = oclusivas (32%) > soantes (28%) > fricativas (3%) e nos erros fonológicos fora da classe = oclusivas (35%) > fricativas (11%) > soantes (9%); o tipo de posição na estrutura da sílaba afetou a distribuição dos erros, já que posições complexas favoreceram o surgimento de mais omissões e transposições do que de substituições; até mesmo o tipo de fonema interferiu no tipo de erro, visto que, nas transposições: /r/ > /l/ > /s/; ainda o tipo de relação fonema/grafema interferiu na distribuição dos erros, já que as substituições não-fonológicas apresentaram a seguinte distribuição: fricativas (44%) > oclusivas (12%) > soantes (8%); por fim, a escolarização afetou o tipo de erro, uma vez que as omissões diminuíram do primeiro para o segundo ano, ao passo que as substituições aumentaram ao longo desses dois anos. Vê-se, pois, que a acurácia ortográfica dependeu: (i) de características fonológicas da língua; (ii) das convenções que regulam a correspondência fonema/grafema; e (iii) das práticas de letramento desenvolvidas ou não em contexto escolar (dada a grande diferença entre acertos e erros na escrita das crianças analisadas).