No Brasil, o discurso religioso ultrapassa os limites da Igreja e permeia outras instâncias com recurso de poder, como, por exemplo, a política e os membros da sociedade eclesiástica, que tem utilizado dessa ótica para legitimar uma hegemonia e proferir discursos que têm como vítimas minorias que não se enquadram no perfil das “Escrituras”, como é o caso de LGBTI+ e, principalmente, as pessoas de diversos gêneros. O vereador da cidade de Uberaba (MG), o pastor Samuel Pereira, por exemplo, criou, em 2016, um projeto de emenda que resultou na formulação de uma cartilha intitulada “Ideologia de Gênero - Entenda o risco que você e seus filhos estavam correndo”, que visava alertar os pais sobre as discursões de gênero na escola. Com base nos postulados da Análise Crítica de Discursos este estudo tem como objetivo principal analisar como essa cartilha e outros materiais de mesma natureza contribuem para reproduzir/acentuar o preconceito contra a ideologia das diferenças de gênero. Van Dijk (2008) propõe métodos de análise, dentre os quais, pela natureza do estudo, foram elencadas a análise gramatical, a estrutura específica do gênero e a semiótica. Fairclough (2001) contribui para este estudo na medida em que propõe uma abordagem tridimensional do discurso, apresentando sua orientação social, linguística e seu impacto nas mudanças sociais. No entanto, para além do linguístico, ele afirma que o discurso possui outras formas simbólicas, como imagens. Carvalho (2010), com base nos estudos de Kress (1996), explana como as relações entre produtores e espectadores das imagens constroem significados sociais. Espera-se com esse trabalho reconhecer relações assimétricas de poder e contestar essa relação imposta e promover mais estudos a partir da perspectiva do grupo dominado e formular alternativas compatíveis aos interesses
desse grupo.