Para a literatura afro-brasileira a autoria não só importa, como é substancial. Ryane Leão, autora do livro Tudo nela brilha e queima, negra, brasileira e poeta contemporânea, sabe bem disso e faz questão de afirmar e se reafirmar em seus poemas. Isso posto, e usando como base apontamentos de Zilá Bernd, Conceição Evaristo, Bhabha Homi e Walter Benjamin, pretende-se refletir sobre a questão identitária, elemento basilar da literatura afro-brasileira, sobre o qual o fazer poético é construído - e isso não se resume à cor da pele de quem escreve e nem apenas à escolha da temática focalizada; diz respeito, na verdade, a uma evidência textual: um eu enunciador que assume a condição negra e faz disso o seu discurso – em primeira pessoa e, na grande maioria das vezes, tendo a poesia como o gênero mais escolhido.
Assim, em um jogo constante que vai do privado ao público, ou seja, da experiência mais pessoal, com tom confessional, mas que acaba alcançando o universal, Ryane, em seu primeiro livro, escreve como quem faz um convite mirando sempre o interlocutor - as mulheres -, tocando em pontos-chave, como identidade, ancestralidade, representatividade e a importância de ser protagonista da própria história.
Dessa forma, em Ryane Leão - e na literatura afro-brasileira de forma geral -, o pessoal é também político, como ressalta Bhabha (1998) em seu O local da cultura. A vivência, apesar de não necessariamente calcada na realidade, é vista com base em um sujeito vivencial. Como enfatiza Bernd (1988) em Introdução à literatura negra, esta funciona como arma, sendo ferramenta de luta e de voz, ecoando e transformando séculos de opressão e subalternidade em discurso.