Neste trabalho, pretendemos fazer uma análise das construções [[X]_N-mor]_N e [arqui-[X]_N]_N na história do português, seguindo os pressupostos teórico-metodológicos da Morfologia Construcional (MC), como abordada por Booij (2010), Gonçalves e Almeida (2013) e Soledade (2013). A MC assume que uma construção deve ser instanciada por um esquema que pareia forma, função e significado. Intentamos analisar os aspectos semânticos, lexicais e morfossintáticos dos compostos [[X]_N-mor]_N e dos prefixados [arqui-[X]_N]_N e discutir o estatuto morfológico dos já mencionados formativos na história da língua. Em relação ao português arcaico (séc. XIII-XVI), utilizaremos o levantamento feito por Santos (2009), no que diz respeito aos compostos X-mor e suas variantes, e o feito por Lopes (2018), sobre os prefixados arqui-X, em suas variantes arca- ~ arce- ~ arzi- ~ arçi- ~ arci- ~ arça- ~ arch- ~ archi. São exemplos do português arcaico alcaide-mor, camareira-mor, capela-moor, arcebispo, arzidiago e archangeos. Observamos que, no português arcaico, tanto o -mor quanto o arqui- tendem a aparecer em construções que ressaltam a proeminência de uma categoria. Há, com base nos dados, uma aproximação semântica entre os dois esquemas, o que vai ficar mais claro em obras lexicográficas de períodos pós-arcaico, em que se faz uma correspondência entre os dois formativos: por exemplo, Cardoso (1570) associa archipirata a corsário-mor e Bluteau (1727) relaciona arquicantôr a cantor-mor. Os dados relativos ao português contemporâneo foram obtidos na plataforma Linguateca e no Twitter. Foram recolhidos os exemplos palhaço-mor, ladrão-mor, puteiro-mor, serelepe-mor, pessimista-mor, arquiladrão, arquiviado, arquichato, arquicorrupto etc. Este trabalho visa a contribuir com os estudos diacrônicos na MC, mas ressaltamos que o referencial inclui autores não construcionistas interessados em composição e prefixação (RIBEIRO; RIO-TORTO 2016; RIO-TORTO 2016; BUSTOS GISBERT 1986).