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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Quando o povo resiste, a língua resiste: o caso da língua Apyãwa

Autores:
Walkiria Neiva Praça (UNB - Universidade de Brasília)

Resumo:

Na socio-história do povo Apyãwa, tradicionalmente conhecido como Tapirapé, observam-se contatos interétnicos acentuados com povos indígenas Jês, além do contato linguístico com o português. Dentre os povos Jês, os Apyãwa, que pertencem a família linguística Tupi-Guarani, tiveram e ainda têm um contato muito estreito com os Iny (karajá). Este contato gerou um grande número de empréstimos em ambas as línguas, porém não foram percebidos como palavras que poderiam destruir suas línguas. Contudo, devido à forte influência do Português, houve uma consistente introdução de itens lexicais dessa língua no Apyãwa. Na comunidade, já havia uma polêmica se o português poderia aniquilar a língua Apyãwa, quando, um professor, incomodado com a situação, lembrou-se que os antigos Apyãwa “traduziam” para o Apyãwa as palavras advindas do Português. A partir daí, começou a refletir no funcionamento da língua e pôs-se a trabalhar com as crianças na escola a “tradução” das palavras estrangeiras. Logo o movimento ganhou força e aproximadamente 200 palavras foram “traduzidas” para o Apyãwa. Para mais, todas as novas palavras foram discutidas em uma reunião com a comunidade. O resultado não poderia ser outro, a comunidade não só referendou os novos itens lexicais como discutiu todas as construções morfossintáticas dos neologismos, e um pequeno dicionário bilíngue Apyãwa-português foi publicado. Os Apyãwa, em sua maioria, são bilíngues, mas uma parcela dessa população é trilíngue, falam o Apyãwa, o português e o Iny. Mesmo com um contato intenso de aproximadamente dois séculos com os Iny, os Apyãwa não sentiram uma opressão linguística tão forte quanto à exercida pelo português. Ou seja, a pressão da língua majoritária sufocando a língua minoritária. Este trabalho tem por meta discutir como os Apyãwa enfrentam o avanço do português na língua Apyãwa, preservando sua língua, identidade e cultura sem deixar de conviver com a sociedade não indígena, bem como a necessidade de ser bilíngue ou trilíngue nessa comunidade.