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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Os rastros do silêncio: uma análise do romance Armadilha para Lamartine, de Carlos & Carlos Sussekind.

Autores:
Luciano Neves de Sousa (FAF - Faculdade do Futuro)

Resumo:

Loucura, literatura, silêncio são palavras/ideias que se articulam e dialogam no romance Armadilha para Lamartine, de Carlos & Carlos Sussekind, objeto de estudo desta comunicação. Nossa proposta de trabalho é analisar a escrita diarística, presente na segunda parte do livro, à luz da formulação de Michel Foucault: “Loucura: ausência de obra”. Objetivamos mostrar que as mesmas palavras que poderiam tornar a loucura ausente revelam, desnudam, a própria loucura. Tendo em vista o fato de buscarmos estabelecer um diálogo entre a formulação foucaultiana e o romance de Sussekind, iremos, inicialmente, discorrer brevemente sobre a concepção de Foucault acerca da loucura para, posteriormente, prosseguirmos na análise de Armadilha para Lamartine. Tal investigação será importante para vermos que Foucault trabalha a loucura não como uma patologia, mas como um fenômeno de linguagem, uma linguagem interdita, aquela que exclui não apenas o corpo, mas também o próprio discurso. Nesse sentido, o romance de Sussekind deve ser lido não apenas por aquilo que é dito, mas também a partir daquilo que ele silencia. O exercício da escrita, nesse contexto, torna-se o ato em que a sua realização coincide com o seu desaparecimento. Entender esse processo paradoxal, em que o aparecimento se realiza no próprio desaparecimento, é já enxergar, implicado nessa operação, o silêncio. Este impõe à escrita uma condição fundamental: escrever só se torna possível no momento em que as palavras fazem desaparecer as coisas e, não obstante, as fazem aparecer enquanto desaparecidas - a realização do visível no invisível. Como resultado da mistura entre escrita, silêncio e loucura, tem-se o romance Armadilha para Lamartine, o qual exibe, na sua enunciação, a loucura que, segundo Foucault, foi durante um longe período reduzida e condenada ao silêncio.