Este trabalho se propõe a analisar o percurso de deriva do enunciado “Vem pra rua” ou “#VEMPRARUA” nos discursos das e sobre as manifestações do que se historicizou como “Junho de 2013”. O material de análise é composto por imagens que veiculam enunciados – como fotos de cartazes nas manifestações –, ou são veiculadas junto a enunciados – como no caso de imagens e enunciados retirados de propagandas da Fiat e campanhas do TSE. Assim, partindo do trabalho com o dispositivo teórico-analítico da análise de discurso de linha francesa (Pêcheux, 1975; Henry, 1990) na relação com as demandas do material, a análise se vale de exercícios parafrásticos e da identificação de recorrências e rupturas discursivas para evidenciar os papéis tanto da materialidade linguística quanto da materialidade não-linguística, sempre postas em relação, na produção de sentido. O eixo central da análise é o recorte construído a partir da identificação da presença, no material, de dois objetos discursivos em disputa por formações discursivas diferentes: a rua e o fazer política. O trabalho, portanto, busca reconstituir os processos de significação desses objetos a partir de relações de paráfrase e de efeito de sustentação presentes na materialidade de enunciados compostos por ou relacionados ao enunciado “#VEMPRARUA”, bem como por sua articulação com elementos da materialidade não-linguística das imagens. A análise aponta, a partir da deriva da materialidade linguística do enunciado, acompanhada por sua apropriação por formações discursivas diferentes e por sua circulação em espaços diferentes marcados na materialidade não-linguística, para um percurso de aproximações e afastamentos entre os sentidos de rua, festa, voto e política nas diferentes formações discursivas, do qual depreende a atribuição, por elas, de sentidos diferentes para o próprio Junho de 2013.