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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo

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A CENSURA A CAPITU EM DOM CASMURRO: UMA VIOLÊNCIA PATRIARCAL?

Autores:
Karen Gabriele Poltronieri (USP - Universidade de São Paulo) ; Lucília Maria Abrahão E Sousa (USP - Universidade de São Paulo)

Resumo:

Escrito em 1899 por um dos maiores escritores da literatura brasileira – Machado de Assis – Dom Casmurro, pertencente à segunda fase machadiana (também chamada fase madura do autor) – narra, pelo discurso de Bento Santiago/Dom Casmurro, atando “as duas pontas da vida” (ASSIS, [1899] 1994, p. 2) e resgatando “na velhice a adolescência” (ASSIS, 1994, p. 2), a vida de Bento Santiago. O narrador-personagem escreve sobre suas memórias, relatando/julgando seu amor e ciúme por Capitu. É sobre essa relação entre Bentinho e Capitu que este nosso texto falará. Partindo da perspectiva teórica da Análise de Discurso francesa e mobilizando a noção de silêncio (ORLANDI, 2007), pretendemos analisar como a personagem Capitu é dita por Bento Santiago de modo a silenciá-la/censurá-la enquanto mulher, expondo-a a uma violência patriarcal que a encarcera em um exílio até a chegada de sua morte. Segundo Gualda (2008, p. 73):

Dom Casmurro é uma obra concebida e construída a partir da centralidade e da visão soberana de um único sujeito, onde a mulher é sujeitada às determinadas representações normativas as quais são “reguladas por práticas sociais e discursivas que sancionam estruturas patriarcais, ou seja, a mulher objeto olhado, falado, desejado e consumido, coexiste com a mulher agente do discurso” (SCHMIDT, 1999, p. 24).

            Para Figueiredo (2000, p. 300), “As obras literárias são, muitas vezes, ‘reescrituras’, mesmo que inconscientemente, das sociedades que as lêem”. Com essa afirmação, é possível dizer que, na obra Dom Casmurro, a personagem Capitu vive em uma época que representa a sociedade brasileira do fim do século XIX e mostra como a mulher era vista e tratada nessa mesma sociedade. Impondo à mulher a censura, o não poder dizer, a obra machadiana registra comportamentos próprios de uma sociedade patriarcal em que a violência contra a mulher está a esses comportamentos associada.

 


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