A rica vida musical carioca da Belle Époque (1890-1920) só é parcialmente registrada na historiografia tradicional. Seus vários circuitos se espraiavam por espaços diversos (teatros, clubes, residências, praças e ruas) e compreendiam gêneros musicais e formações instrumentais/vocais também diversos. Os registros, ora centrados em gêneros específicos ou em espaços específicos, não nos permitem observar as afinidades, trocas, superposições, tensões, atritos e choques entre circuitos diferentes. As crônicas sobre a vida na cidade são esclarecedoras sobre a presença dessas músicas na cidade. Para uma cidade que se renovava, novas sonoridades e também uma nova crônica, atenta a essa nova cidade, seus ritmos e sons. Nesta comunicação nos centramos nas crônicas de Lima Barreto e de João do Rio procurando ali os registros, quer seja diretos quer seja indiretos, da presença da música na cidade. A partir desse levantamento, nos foi possível colocar em diálogo os diferentes tipos de fonte – jornais não especializados de circulação diária, literatura de ficção, iconografia, revistas ilustradas, historiografia tradicional – que, reunidos e cotejados, nos proporcionam um panorama mais rico sobre a vida musical na Belle Époque carioca. O panorama daí resultante evidencia um período complexo, que vai muito além dos epítetos de precursor ou pré-modernista.