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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Estamira: entre o normal e o patológico

Autores:
Mônica Miliani Martinez (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas )

Resumo:

“Há um lugar que se destine a receber o ‘refugo humano’”. Essa frase de Zygmunt Bauman permite inferir que as sociedades modernas são um espaço interessante para a análise daquilo que é contingente. Nesta comunicação, o lugar é um aterro sanitário no Rio de Janeiro, na época (2006) o maior da américa latina, chamado Jardim Gramacho. O refugo humano é Estamira: uma mulher de 62 anos, que olha o mundo com olhos machucados por invasões - o estupro da mãe pelo avô materno; o próprio estupro pelo mesmo avô, que a deixou, em um bordel, aos 12 anos; a traição de dois maridos; a perda de um filho que, segundo a própria Estamira, “nasceu invisível”; e o abandono da mãe, na década de 70, no hospital psiquiátrico Engenho de Dentro. Dentro desse cenário, o objetivo desse trabalho é analisar as disputas de sentido que envolvem o “normal” e o “patológico” no documentário “Estamira” (Prado, 2004). A partir das perspectivas da “normatividade vital” (Canguilhem) e do silêncio das vozes socias (Orlandi, 2007), Estamira está em questão, não apenas como personagem da vida real, mas sim como uma representante da coletividade excluída e pobre, aqui também rotulada como louca. No discurso, sujeito e sentido se constroem mutuamente, porém, quando atravessados pelo silêncio da censura (Orlandi, 2007), o sujeito é impedido de ocupar certas posições discursivas, como se os sentidos de suas palavras ficassem interditados. Essa interdição pode ser vista no documentário em análise, como uma ação legitimada institucionalmente e socialmente. A singularidade dessa análise mostra que há uma articulação incontornável entre a loucura e a pobreza, duas discursividades capazes de significar a posição-sujeito Estamira que, para a análise materialista do discurso, não trata do sujeito empírico, mas da posição sujeito projetada no discurso (Orlandi, 2010).