Nesta comunicação, apresentamos os resultados de uma pesquisa que analisa as marcas da responsabilidade enunciativa em textos de inquérito policial, de modo específico, as indicações de um suporte de percepções e de pensamentos relatados. A responsabilidade enunciativa consiste em uma das categorias da Análise Textual dos Discursos (ATD) e refere-se aos recursos que o enunciador utiliza para apropriar-se da linguagem e assumir o seu ponto de vista ou atribuí-lo a outro (cf. ADAM, 2011). A pesquisa situa-se no âmbito teórico geral da Linguística de Texto, especificamente, nos pressupostos da Análise Textual dos Discursos propostos por Adam (2011), com ênfase na teoria da enunciação, seguindo princípios da pesquisa documental, de base qualitativa. O corpus é constituído por nove inquéritos policiais, coletados em uma Delegacia Especializada de Amparo à Mulher, em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. No que concerne aos procedimentos de análise, aplicamos as oito categorias citadas por Adam (2011), consideradas capazes de marcar o grau de responsabilidade enunciativa de uma proposição: os índices de pessoas, os dêiticos espaciais e temporais, os tempos verbais, as modalidades, os diferentes tipos de representação da fala, as indicações de quadros mediadores, os fenômenos de modalização autonímica, as indicações de um suporte de percepções e de pensamentos relatados. Os resultados mostram que as marcas linguísticas da responsabilidade enunciativa incidem sobre os enunciados, direcionando argumentativamente para a construção dos sentidos, a partir dos pontos de vista dos diferentes enunciadores atuantes no quadro enunciativo dos documentos selecionados para análise. Os índices de um suporte de percepções e de pensamentos relatados estão presentes nos textos analisados, contribuindo, assim, para a assunção ou (não) assunção da responsabilidade enunciativa nos enunciados.