A NEGAÇÃO E A EXPRESSÃO DO CONHECIMENTO EVIDENCIAL | Autores: Marize Mattos Dall Aglio Hattnher (UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA) |
Resumo: Ao analisarem a negação sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional (GDF), Helgeveld e Mackenzie (2018) apontam que operadores com valor negativo, já identificados em todas as camadas do nível representacional, podem também ser identificados no nível interpessoal. Com essa descrição expandida dos seus níveis de atuação, a negação, tal como também identifica Neves (2017), passa a ser descrita como um operador interpessoal que não expressa um significado negativo estrito, uma vez que não é possível ao falante realizar uma ação por meio do seu dizer e negar que a esteja realizando. Considerando que, conforme Hengeveld e Hattnher (2015), a evidencialidade também atua no nível interpessoal, como um operador reportativo indicador de que o falante não está expressando seu próprio material cognitivo, mas está passando adiante a opinião de outros, esse trabalho analisa a interação entre essas duas categorias quando atuam nas camadas pragmáticas do nível interpessoal. Para tanto, são analisadas ocorrências provenientes de amostras de língua oral e escrita da língua portuguesa do Brasil. Os resultados apontam que, no nível interpessoal, essas relações são mais fluidas, delas decorrendo uma série de efeitos de sentido conforme a negação opere rejeição, proibição ou refutação do ato de fala (cf. Hengeveld e Mackenzie, 2018). Quando atuam na mesma camada do nível interpessoal, negação e evidencialidade não estabelecem uma relação de escopo. A explicação para esse comportamento está diretamente relacionada ao fazer expresso pelas duas categorias, claramente interacional: marcar um conteúdo comunicado como reportado ou marcar uma discordância, de diferentes tipos, com o conteúdo comunicado. No entanto, a negação, ao atuar em camadas mais altas que a do conteúdo comunicado, tem escopo sobre a evidencialidade, obedecendo, no nível interpessoal, aos mesmos princípios hierárquicos previstos para as relações no nível representacional e decorrentes da estrutura estratificada da oração prevista pelo modelo teórico da GDF.
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