Mapearemos, sob uma abordagem socioconstrucionista, pareamentos forma-função de predicação preenchidos com os verbos suportes ter e haver e acionados para a impessoalização discursiva de participante num estado de coisas.
Focalizaremos a alternância entre usos dos padrões construcionais: “(nós) ter na 1a p.pl. SNpredicante”, “(você) ter na 3a p.sing. SNpredicante”, “ter-se na 3a p. SNpredicante” e “haver na 3a p. SNpredicante” (por exemplo, "atualmente (nós) temos informatização, (você) tem informatização, tem-se informatização e há informatização de vários processos na vida cotidiana"). Tais padrões serão pesquisados em textos acadêmicos brasileiros e portugueses coletados em dois períodos de tempo de curta duração. Queremos saber: qual é o estatuto dessa variação e o que afeta o acionamento de um ou outro padrão?
Como hipóteses, consideramos que: (i) a microconstrução “ter-se SNpredicante”, na escrita, passa a competir cada vez mais com a microconstrução “haver SNpredicante” na organização do discurso acadêmico; (ii) a microconstrução “(você) ter SNpredicante”, na oralidade, passa a ocorrer mais frequentemente; e (iii) “(nós) ter na 1a p. pl. SNpredicante” é um padrão a que os falantes recorrem em ambas modalidades.
Verificaremos a produtividade de empregos de tais padrões e descreveremos suas condições de acionamento. Nessa análise, examinaremos os dados quanto às forças de atração e coerção envolvidas na compatibilização de ter e haver na construção com verbo suporte a qual se presta à impessoalização discursiva.
Evidenciaremos, qualitativa e quantitativamente, que perífrases com ter e haver constituem predicadores verbo-nominais complexos que são acionados com relação de similaridade no domínio acadêmico, apresentam as propriedades basilares de perífrases com outros verbos suportes (embora funcionalmente se prestem, na perspectivação, à opacificação de um participante de estado de coisas), podem entrar numa relação de analogia com predicadores cognatos plenos oriundos de outros padrões construcionais de indeterminação discursiva e resultam de microconstruções que se organizam numa rede de construções de predicação complexa.