Considerando a distinção tético-categórico (Sasse 1987, entre outros) este estudo discute a admissibilidade, no português brasileiro (PB) de enunciados téticos interruptivos e apresentativos de ordem sujeito-verbo (SV), lado a lado com a ordem VS, considerada tipicamente indicadora de teticidade.
Enunciados téticos são informativamente unimembres: não estão constituídos de categorias informativas distintas articuladas (tema-rema, tópico-comentário), como os enunciados categóricos. Apresentam um estado de coisas como um todo no qual os sujeitos envolvidos não são tópicos ou temas independentes (Sasse, 1987). Assim exemplificam Martins e Costa (2016:378) a construção tética portuguesa (não-inacusativa):
(1) Estão uns sapatos teus na casa do Pedrinho.
O exemplo demonstra o Princípio de detopicalização do sujeito (Lambrecht 2000:624) por meio do qual o falante sinaliza que não predica sobre um tópico.
Nosso corpus consiste de téticas de função interruptiva e apresentativa (Sasse 2006:33) presentes em rubricas de peças teatrais brasileiras (século XXI), com os verbos tocar e entrar, respectivamente. As primeiras aparecem no corpus quando, por exemplo, o telefone ou a campainha tocam e as segundas, quando entram personagens novos em cena. Resultados preliminares mostram:
(a) sujeitos novos (Prince 1981) com e sem determinante (2a) e com determinante definido (2b) e indefinido (2c):
(2a) Telefone toca. Elizarda corre para atender (…)
(2b) Thomas vem andando com um cachorro-quente numa mão e uma pasta, na outra. O celular toca, ele pára quase em frente a Severino.
(2c) As pessoas voltam a botar as coisas na mochila. Um celular toca e todos se entreolham.
(b) alternância entre interruptivas e apresentativas VS (3a) e SV (3b):
(3a) Entra em cena um travesti camtando uma música de Madonna.
(3b) Um adolescente entra em cena. Maria segue para as carroças. Madona caminha até o proscênio.
Observe-se em (3b) o paralelismo sintático entre as sentenças e a desigual estrutura informativa.