Passagem ao ato ou ato como passagem: corpo e linguagem | Autores: Ivan Guilherme Hamouche Abreu (CAPSI ASA NORTE - SES/DF - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Asa Norte - Secretaria de Saúde do Distrito Federal) ; Maria Cláudia Camargo de Freitas (CAPSI ASA NORTE - SES/DF - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Asa Norte - Secretaria de Saúde do Distrito Federal) |
Resumo: O ato compõe na constituição do psíquico e, portanto, da linguagem. Na contemporaneidade o ato tem assumido uma expressão que sugere algo de inédito no campo da cultura e do sofrimento humano. Isso diz da maneira como o sofrimento, em especial juvenil, tem sido semantizado. Lembre-se a expressão fenomênica do desejo de morte que comparece na narrativa do sofrimento junto a atos de mutilação, escarificação e outros que se inscrevem nos limites ou nas bordas, para logo dizer do corpo vivido – que é o corpo atravessado pela linguagem e temperado no prazer e na dor. Corpo que passa a ser privilegiado pelo sofrimento se a palavra encontra-se estrangulada, em meio aos acordos coletivos em vias de dissolução. Sabemos que o sujeito de desejo e de linguagem está exposto ao equívoco, à incompletude, à contradição, ao discurso. Na trama dada pelo inconsciente, pela história, pelas relações de alteridade e pelo interdiscurso deslizam operações de significação e efeitos de sentido que se conectam a infindáveis redes imaginárias. Contudo, a tendência de coisificação do sofrimento na modernidade pode ter o efeito metafórico de estancar esse deslizamento significante e congelar o imaginário, o que poderíamos entender como ataque a própria simbolização do corpo, subjugado à condição de coisa: seja como matéria biológica pelo campo da saúde; seja como corpo disciplinado pela escola; seja como corpo estritamente medicalizado pela medicina; seja como corpo explorado e instrumentalizado pelas relações de trabalho; seja como corpo moralizado pelo campo social; seja como corpo abusado na vida privada; seja como corpo de consumidor, consumido pelo Maketing; seja como corpo amestrado pelos discursos das ciências. Estaria o sujeito juvenil, que volta as suas inscrições em ato para o próprio corpo, à guisa de um deslocamento para os referentes supostamente estagnados pela prevalência da coisificação das relações no mundo?
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