A natureza da relação entre os problemas de produção e percepção ainda permanece obscura, sobretudo no que se refere à identificação do mecanismo perceptual ou representacional subjacente.
O objetivo do estudo foi comparar e correlacionar a acurácia de produção, de percepção da fala do outro e de sua própria fala em 10 crianças com alterações fonológicas.
Com o uso do instrumento PERCEFAL foram realizadas as seguintes avaliações: produção da fala; percepção da fala do outro, a partir da tarefa de identificação de produções típicas dos contrastes fônicos do PB; e percepção em si, a partir da tarefa de identificação das próprias produções das crianças. Observou-se uma diferença significante entre as acurácias de percepção no outro, percepção em si e produção (p<0,00). A habilidade de percepção na fala do outro apresentou maior porcentagem de acerto e, consequentemente, menor porcentagem de erro comparativamente às acurácias de produção e percepção em si. Apenas as habilidades de produção e de percepção em si correlacionaram-se significativamente (p<0,05).
O fato de a habilidade de percepção no outro apresentar melhor acurácia sugere que esta habilidade precede a habilidade de produção, a criança parece ser capaz de perceber na fala do outro muito antes daquilo que ela é capaz de produzir. A correlação positiva apenas entre a acurácia das habilidades de produção e percepção em si sugere que a avaliação de tais habilidades parece acessar a mesma forma de representação fonológica. Diferentemente, na percepção da fala do outro, supõe-se que a criança deva comparar as produções das palavras pelo adulto – melhor detalhada e estabelecida do ponto de vista fonético-acústico, com a representação que as elas têm dessas palavras. Ou seja, uma produção mais acurada, como é o caso da produção dos adultos, deve conter pistas que ajudem as crianças identificá-las, ainda que sua representação esteja “ampla” ou não estabelecida.