A narrativa autobiográfica como estratégia argumentativa de legítima defesa: a encenação do ethos, pathos e logos
Maria Aparecida Leite Mendes Cota - ESDHC
Esta comunicação tem por objetivo analisar as estratégias de construção e projeção do ethos feminino em narrativa autobiográfica de uma mulher acusada pela morte do marido. O discurso, uma carta redigida em próprio punho, com fins à obtenção de habeas corpus, é analisado sob a ótica do contrato comunicacional de Charaudeau (2005, 2007). Parte-se da análise da situação comunicativa, levando em conta as operações: de regulação (contato e relação entre os interlocutores); identificação (imagem /ethos); dramatização (emoção/pathos) e racionalização (narração-argumentação/logos) a fim de se analisarem as estratégias adotadas pelo sujeito enunciador para romper o silêncio dos muros da prisão e a distância do magistrado e defender a tese de legítima defesa. O enunciador usa da narrativa dos fatos vivenciados na conturbada relação conjugal como estratégia para criar o caráter de mulher apaixonada, fiel e vítima da violência, das drogas e do ciúme do marido. Assim os fatos narrados passam a refletir não só uma experiência pessoal, mas valores e crenças de um modelo patriarcal de sociedade que relega a mulher ao papel de subalternidade e se transformam em provas capazes de desencadear a emoção do auditório/juiz e o fazer aderir à tese da legítima defesa. O enunciador conclui a narrativa com argumentos patêmicos: “O médico do SAMU disse que ele engasgou, o que não tira minha culpa, mas eu não queria morrer [...]” “Estou muito arrependida e pagando mais que pensei” “Eu só quis salvar minha vida, nuca planejei isso. Que Deus me perdoe!”. Conclui-se que ethos, pathos e logos não se constituem como provas estanques e se encadeiam na encenação do discurso de forma a criar os efeitos visados.
Palavras-chave: Narrativa autobiográfica. Ethos. Pathos. Logos. Argumentação.