A atualidade impõe aos estudiosos das línguas, textos e discursos a revisão de conceitos e métodos para que se ajustem aos novos paradigmas. No que se refere à argumentação (e não só a ela), o conceito de “pós-verdade” torna inescapável a reflexão sobre o tratamento da verdade na Análise do Discurso, bem como a atenção às estruturas linguístico-discursivas capazes de sustentar a manipulação e criar mentiras a partir de verdades, fatos a partir de crenças. Nesse sentido, o estudo pretende não só retomar as reflexões sobre a verdade em teóricos como Foucault, Pêcheux e Charaudeau, como também relacionar algumas estratégias utilizadas na criação de pós-verdades, dentre as quais destacam-se: (i) os diferentes tipos de implícitos, especialmente os de vínculo semântico mais forte, por não dependerem de nenhum esforço interpretativo por parte do co-enunciador; (ii) a descontextualização de textos e imagens, que retira um dito ou um acontecimento de sua encenação mais ampla, ajustando-se à direção argumentativa desejada; (iii) a justaposição de sentenças, cuja verdade seja claramente verificável, mas não a relação lógico-semântica recuperável por um conectivo omitido. Compreender as bases nas quais se sustenta a argumentatividade na atualidade é fundamental. E, para tanto, propomos a análise de textos repercutidos na mídia oficial (em sua versão digital) e nas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter.