Este trabalho tem como objetivo discutir sobre as modalidades enunciativas na construção de sentidos sobre a traição, tendo como embasamento as formulações teóricas de Michel Foucault, mais precisamente as obras A ordem do discurso (2014) e A arqueologia do saber (2002).  Constituem o corpus de análise deste estudo quatro vídeos de músicas sertanejas cantadas por mulheres, veiculados na plataforma do YouTube, a saber: Pessoa errada (2015), Motel (2015), Traição não tem perdão (2017) e A culpa é dele (2018). A escolha desta materialidade justifica-se pelo fato de as mulheres estarem conquistando cada vez mais espaço no universo sertanejo, antes majoritariamente ocupado pelos homens. Além disso, a traição tem sido tema recorrente em diversos gêneros musicais. Assim como outros estilos, o sertanejo também difunde ideias sobre o que é traição, a partir de regularidades discursivas que estão diretamente relacionadas aos momentos históricos nos quais essas músicas são produzidas. A análise foi realizada a partir da construção de séries, baseada nas regularidades discursivas presentes nos vídeos. Para a reflexão e discussão acerca das modalidades enunciativas, algumas questões conduziram a análise, tais como: Quem são essas mulheres neste momento da história? Qual a posição que elas ocupam? Quais as condições de possibilidade de emergência do discurso proferido por elas? A pesquisa encontra-se em andamento, portanto, as considerações são parciais. Até o momento, concluímos que o discurso da traição é construído a partir de modalidades enunciativas que refletem o lugar social do sujeito, bem como determinam o modo de enunciar desse sujeito. Assim, as regularidades encontradas estão relacionadas à posição do sujeito mulher no universo sertanejo e estabelecem papeis sociais para o homem e para a mulher em relação à traição.