O ensino de línguas na atualidade tem demonstrado que o ensinar e o aprender não se reduzem a processos de transmissão e assimilação de informações. Na verdade, os estudos mais contemporâneos indicam que o trabalho com a linguagem deve instituir o pensamento crítico, favorecer a autonomia intelectual e desenvolver-se por meio de práticas pedagógicas inovadoras e dialógicas. Assim, é na esteira dessas considerações que ganha relevância o ensino/aprendizagem por meio dos gêneros do discurso, haja vista que se tem reconhecido, cada vez mais, a necessidade de se trabalhar a língua por meio dos textos nos quais os gêneros se manifestam. Para contribuir com essas discussões, o presente trabalho tomou como objeto de análise a avaliação da leitura de um gênero jornalístico específico: o artigo de opinião. Em outros termos, a partir de coleções didáticas direcionadas ao ensino médio brasileiro, procurou-se investigar de que maneira as atividades de leitura exploram as dimensões identitárias desse gênero, além de examinar o perfil de leitor pressuposto por esses materiais didáticos. A pesquisa fundamentou-se em postulados teóricos e metodológicos da Análise de Gêneros de vertente sociointeracionista, com destaque para os trabalhos do círculo de Bakhtin e para as abordagens do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD). Em linhas gerais, os resultados evidenciam que as coleções didáticas trabalham de maneira insatisfatória as dimensões identitárias do gênero artigo de opinião, uma vez que privilegiam a sua estrutura formal em detrimento dos aspectos sociais e linguísticos que o caracterizam. Além disso, foi possível constatar que as coleções didáticas analisadas pressupõem o trabalho de um leitor resignado e altamente tecnicista diante desse gênero do discurso, revelando, assim, uma prática pedagógica ainda limitada no que se refere à formação crítica de sujeitos capazes de desvelar as múltiplas estratégias de que a mídia se serve para a avaliação axiológica dos acontecimentos sociais.