A violência sexual deixa marcas nas vítimas tanto físicas quanto psicológicas. As ações do agressor sobre o corpo feminino imprimem traumas que não são superados tão facilmente. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar os discursos das vítimas de violência sexual com ênfase nos aspectos que incidem sobre o corpo das vítimas de abuso. Para tanto, selecionamos como corpus dois casos divulgados na revista Veja e no jornal El País, que tiveram grande repercussão na mídia no ano de 2017. O primeiro refere-se ao depoimento da vítima de uma situação de abuso no qual um homem ejaculou no seu pescoço num ônibus na cidade de São Paulo. No segundo caso, uma mulher foi vítima de estupro coletivo e viu na obesidade uma alternativa para o seu corpo não ser mais abusado. A metodologia utilizada em nossa pesquisa baseia-se na abordagem qualitativa, de cunho descritivo-interpretativo. Ainda que fundamentadas nos postulados discursivos foucaultianos, em nossas análises recorreremos também a Courtine, Corbin, Vigarello (2008), para discutir as questões que envolvem o corpo, a verdade e o poder. Ao analisar os dados da nossa pesquisa, percebemos que as vítimas apresentam uma rejeição ao próprio corpo que é abusado e tendem a ter “nojo” ou até querer mutilá-lo como uma forma de apagar as marcas deixadas pelo abusador.