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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


De Anchieta a Clarice Lispector: o jardim dos loucos em A Rainha dos Cárceres da Grécia

Autores:
Sebastiana Lima Ribeiro (UNB - Universidade de Brasília)

Resumo:

A loucura como tema artístico é amplamente referenciada, mas é na pintura e na literatura que temos maior diversidade de tratamento do assunto. No repertório ocidental o louco é, quase sempre, uma figura que nos vem associado à ideia de liberdade ou de privação desta. O filósofo Michel Foulcault em História da loucura, observa uma medida social comum tomadas na idade média ao se embarcarem os doentes em naus e deixá-los à deriva em alto mar, as famílias e o Estado livravam-se daqueles inconvenientes. Isto nos chama atenção para a ambígua condição daquele que está privado da sanidade: ele é um ser livre e encarcerado, e por isso pleno de possibilidade. Assim nos retrata o filósofo a barca dos loucos: “Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. É o Passageiro por excelência, isto é, o prisioneiro da passagem. E a terra à qual aportará não é conhecida, assim como não se sabe, quando desembarca, de que terra vem. Sua única verdade e sua única pátria são essa extensão estéril entre duas terras que não lhe podem pertencer.” Em A Rainha dos Cárceres da Grécia, a escritora Julia Enone após duas internações psiquiátricas deixa ao morrer um manuscrito inédito no qual a narradora Maria de França, migrante nordestina parda e pobre, busca de amparo social devido a surtos de loucura. Neste sentido esta comunicação pretende abordar os seguintes aspectos: A máscara da loucura usada como artifício ficcional nas instâncias autoral e narrativa; a loucura como dispositivo de mediação engedrado com vistas a ressaltar o caráter poético da obra, bem como os planos espaciais e temporais do romance sob a perspectiva da loucura.