O PREGADOR DO FIM DO MUNDO: DISCURSO ESCATOLÓGICO NO AGRESTE SERGIPANO DO SÉCULO XIX

Glêyse Santos Santana UFS)

gleysesfpe@gmail.com

Alisson França Santos (UFS)

alissonfrench@gmail.com

Na história cultural brasileira, os movimentos populares de cunho religioso são uma constante desde os tempos coloniais, quando crenças do catolicismo tradicional europeu se misturaram às das culturas indígena e africana. Um desses aspectos se revela no caso do catolicismo oficial que concorreu desde sua introdução no território brasileiro com o catolicismo popular, significativo sobretudo nas áreas mais rurais. Esse texto, fruto de pesquisa doutoral em andamento, visa, a partir do constructo teórico-metodológico da Análise do Discurso (AD) desenvolvidos nos estudos de Michel Pêcheux (1999, 2014, 2015), Eni Orlandi (1998, 2014, 2015), Freda Indursky (2018), dentre outras contribuições oportunas, refletir acerca de duas das epístolas do padre Felismino da Costa Fontes que no século XIX liderou na Província sergipana um movimento popular denominado “os caipiras”, intitulando-se “o pregador do fim do mundo”. Devido às suas crenças, pregações e escritos heréticos, o clérigo foi perseguido pela Igreja e Estado brasileiros, feito prisioneiro no Asilo São João de Deus na cidade de Salvador. Dito isto, os objetivos que norteiam esta análise são: apreender quais as formações discursivas que se apresentam no corpus aqui selecionado e quais os possíveis sentidos que emergem nesse discurso. O estudo voltou-se a duas cartas (datadas respectivamente de 1890 e 1891, ambas de caráter informativo acerca da situação de Felismino Fontes) para compreender o enunciar do clérigo em sua relação com o silêncio e o interdito, buscando revelar o ideológico que sustenta seu discurso.