Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Preconceito linguístico na rede: natureza dos fenômenos variáveis estigmatizados no português brasileiro

Autores:
Sílvia Maria Brandão (UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho")

Resumo:

É consenso, no interior da Teoria Variacionista (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]; LABOV, 2008 [1972], 1994, 2001, 2010), que há valores sociais e estilísticos associados diferentemente às variáveis linguísticas. O que motivaria esses valores? Para Lavandera (1984), os estudos em níveis além do fonético-fonológico reservaram um espaço periférico para o valor social das variantes, porque nem sempre esse é tão nítido. Tal observação poderia dar a entender que fenômenos de níveis mais altos estariam abaixo da consciência do falante (LABOV, 2008[1972]). A hipótese deste trabalho, entretanto, é de que a saliência cognitivo-social (CAMPBELL-KIBLER, 2006) acerca do estigma ou do prestígio por detrás de cada variante não é exclusivamente motivada pela natureza da variável (fonético-fonológica, morfológica, sintática, pragmática, discursiva etc.), mas por quem faz uso das variantes e pelo estágio em que se encontra a possível mudança linguística. Objetivando mapear a natureza dos fenômenos que “irritam” falantes do Português Brasileiro e observar padrões de saliência cognitivo-social, avaliamos respostas à seguinte postagem no Facebook: “Qual erro de português te irrita profundamente?”. Com auxílio do R (CORE TEAM, 2017), preliminarmente, percebemos que, em cerca de 1500 comentários à postagem, fenômenos largamente estudados como a ditongação (arroz-arroiz), do nível fonético, e a colocação pronominal (me dê um abraço/ dê-me um abraço), do morfossintático, sequer são mencionados como “irritantes”. Já o rotacismo (Flor e Fror) e o uso de pronomes oblíquos como sujeitos da oração (para eu fazer/para mim fazer) são ambos duramente criticados. Neste trabalho, portanto, traçamos um panorama dos tipos de fenômenos que “irritam” seus falantes e dos discursos que subjazem a esses fenômenos, com vistas a entender as motivações cognitivo-sociais da visão comum, que nem sempre coincidem com a realidade de uso da língua e, não raro, resultam em preconceito linguístico.


Agência de fomento:
CAPES