O presente trabalho pretende compartilhar uma experiência de leitura para jovens na qual o repertório escolhido se restringe a obras de literatura infantil. A premissa do trabalho é simultaneamente deslocar conceitos e preconceitos relativos ao direcionamento de leitor que, em geral, acompanha a adjetivação dessa literatura. Assim, um dos principais objetivos era (e é) colocar em reflexão as construções de sentido sobre o literário e, simultaneamente, resgatar uma possível memória afetiva dos textos escolhidos, muitos deles parte constitutiva do repertório de leitor desses sujeitos. Assim, a experiência se conduz como uma leitura compartilhada, em que a docente apresenta a obra e se coloca no lugar de leitor para, posteriormente, promover o contato físico com a obra. O ato performático da leitura (ZUMTHOR, 2007), com os alunos acompanhando a voz da docente, numa análise inicial, indica o encantamento do leitor pelo texto, baseado na experiência do ler a partir do outro. Ademais, os comentários e compartilhamentos das impressões de leitura remetem a um efetivo resgate de memórias, suscitando variadas reações dos alunos ouvintes – o encantamento, a surpresa, o choro, por exemplo. Desse modo, é a experiência emotiva da performance da docente e de seu modo de condução da leitura que permitem ao leitor um novo contato com a obra e não apenas o resgate da memória da leitura já vivida como uma nova possibilidade de construção de sentidos. Nesse sentido, a experiência parece produzir ressignificações tanto nas concepções sobre o campo do literário quanto no processo formativo dos leitores (PETIT, 2008). Para esta análise inicial, serão utilizados depoimentos de estudantes coletados ao longo do último ano, de modo a compreender o impacto da leitura sobre sua a memória literária e afetiva, recuperando os rastros dessa experiência em suas trajetórias.