Em um projeto, em andamento, de levantamento e análise das raízes da obediência política nos discursos políticos brasileiros, tomamos como fundamento que na sociedade somos chamados a obedecer e assumir responsabilidades, a partir de diferentes discursos. Nosso objetivo, nesta comunicação, é problematizar como as formas de obediência, que, por sua vez, também geram formas de desobediência, atuam como formas políticas de inscrição do sujeito no debate político. Teoricamente, seguindo alguns filósofos franceses, (em especial M. Foucault em A coragem da Verdade e F. Gros em Desobedecer), que se dedicaram a refletir sobre a relação entre os discursos e a inscrição dos sujeitos na sociedade, daremos ênfase especial à análise de como as expressões a) de conformismo conduzem os sujeitos a seguir um alinhamento de comportamento, um mimetismo que parece ser natural e espontâneo que muitas vezes leva à barbárie e b) de consentimento como resultado de um estilo de obediência que, sendo propriamente político e legalista, leva a narrativizar o discurso em resistência como desobediência civil e esta por sua vez, compreendida como disfórica. Metodologicamente, organizamos nosso arquivo de análise pautado nos discursos cotidianos, nos quais é possível identificar formas de produção dos discursos de conformismo e de consentimento que se sobrepõem aos discursos de resistência. Nossos resultados indicam que desobedecer à estabilizada obediência política é responder à obrigação ética e compreender que desobedecer é antes de tudo valorizar a obediência refletida, obedecer a si próprio.