A Necropolítica Colonial da "Ideologia do Gênero" no Brasil | Autores: Marina M Segatti (UCSC - University of California Santa Cruz) |
Resumo: Dado que a chamada "ideologia do gênero" tornou-se recentemente proeminente no Brasil, com este artigo considero os "pressupostos" biopolíticos que esses discursos animam no contexto do Queer*. Busco examinar como a questão queer, no contexto brasileiro, historicamente tem sido articulado como uma questão de segurança nacional. Com base na noção foucaultiana de segurança e biopolíticas e o pensamento feminista decolonial, procuro desvendar como os mecanismos de poder corporificado são articulados e como essas articulações mantêm e reforçam o conceito tradicional de família, possibilitando a (con)figuração de certos sujeitos. Como lados da mesma moeda, a biopolítica (o governo da vida) e a necropolítica (a política da morte) são fundamentais para essa análise. Eu proponho três argumentos principais. Primeiro, o conceito tradicional de família proposto por uma oposição à “ideologia de gênero” assumida, juntamente com os processos de sexualização e racialização como conseqüências da ainda existente colonialidade de poder e colonialidade de gênero, contribui para enquadrar a questão queer como um ameaça de risco que pode ser resolvida através de violência ou assimilação, dependendo de quão cooperativo o sujeito queer esteja disposto a ser. Segundo, as figurações do sujeito homossexual como um ser humano aberrante, desviante e perigoso andam de mãos dadas com a figuração do cidadão 'bem intencionado', que é alguém 'autorizado' a assegurar a normalidade da existência do sujeito liberal, na ausência das tecnologias estatais de segurança. Por fim, tanto o estado quanto o cidadão "bem intencionado" implantam práticas biopolíticas de segurança para controlar, gerenciar e, quando necessário, eliminar a “estranheza”.
Agência de fomento: University of California, Santa Cruz |