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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


NARRADORES DO EXTREMO NORTE: FOCO NARRATIVO E REPRESENTAÇÃO ALEGÓRICA EM ROMANCES DE DALCÍDIO JURANDIR

Autores:
Alex Santos Moreira (UFPA - Universidade Federal do Pará)

Resumo:

Ao longo de 40 anos, Dalcídio Jurandir (1909-1979) construiu em dez romances um denso painel da vida de homens e mulheres na Amazônia. Esse conjunto de narrativas denominado Extremo Norte configura-se como um painel amazônico sem paralelo na literatura brasileira  e mostra uma visão autóctone da região. Os livros de Jurandir apresentam um acabamento formal que os coloca entre os melhores da nossa literatura, principalmente, a produzida no século XX. Apesar da relevância, o escritor ainda é desconhecido por muitos leitores. Nas obras do ciclo, a crítica à realidade econômica pretérita da Amazônia surge primordialmente por meio do memorialismo e transfigura-se como uma marca intrínseca ao conteúdo da ficção dalcidiana, pois, a técnica narrativa usada funda-se em uma oscilação de vozes narrativas que revelam vários níveis de tempo e as camadas de memória de diferentes personagens. Esse imbricamento narrativo  transformar-se em um prisma no qual as experiências narradas são refletidas uma sobre as outras, juntando a experiência particular de vida à experiência coletiva. Diante disso, o trabalho examina as relações entre a focalização narrativa dos romances do Ciclo Extremo Norte e de elementos sociopolíticos e históricos da Amazônia e do Brasil. Pretende-se mostrar como a tessitura das obras traz à baila questões pertinentes sobre a sociedade brasileira do século XX. Os romances, Chove nos Campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947), Três Casas e um Rio (1958), Belém do Grão-Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira Manhã (1967), Ponte do Galo (1971), Os habitantes (1976), Chão dos Lobos (1976) e Ribanceira (1978), de forma direta e indiretamente criticam as relações sociais e de poder impostas, nacionalmente, à sociedade brasileira, e, regionalmente, à sociedade amazônica. A forma como o escritor elabora a linguagem nos livros do ciclo permite ver o uso de recursos alegóricos (BENJAMIN, 2004) na construção de sentidos e significados distintos para além dos até então apresentados pela crítica literária.