Sintagmas binominais: o papel da pragmática na determinação do núcleo
Na tradição gramatical, o uso do termo ‘núcleo’ para capturar as intuições do linguista sobre o que constitui a parte mais importante de SN implica fazer uma descrição semântica (Jerspersen, 1924). Os testes operacionais definidos para comprovar a confiabilidade da concepção semântica postulam, por um lado, que o núcleo tenha uma distribuição equivalente à construção completa e que seja, por outro, o constituinte obrigatório do SN (Quirk et al., 1985; Zwicky, 1985; Huddleston; Pullum, 2002). Todavia, a situação em que o SN contiver dois elementos nominais ligados pela preposição de, como em o idiota do médico, pode tornar complexa a tarefa de indicar o elemento que atua como núcleo. É justamente sobre esse tipo especialmente problemático de SN, chamado “sintagma binominal” (Keizer, 2007), de estrutura [N1+de+N2], que este trabalho se debruça. Os dados mostram que o primeiro elemento nominal da construção tem um valor avaliativo que pode ser tanto pejorativo (o idiota do médico), quanto positivo, um anjo de menina); mostram, além disso, que esse tipo de construção pode dispor de uma interpretação literal (o avarento do gerente) ou de uma interpretação metafórica (um anjo de menina); os casos que implicam um valor metafórico podem receber uma leitura irônica, como em uma beleza de cicatriz. A natureza predicativa do N1 abre a possibilidade de ele corresponder ao valor de um adjetivo, como em o médico idiota/O médico é idiota. Conclui-se que esses tipos de SNs constituem, no Nível Interpessoal, um Subato de Referência com um dos Subatos Atributivos assumindo a função específica de veicular a atitude do falante a respeito do referente. No Nível Representacional, os SNs binominais pressupõem a referência a uma entidade, um indivíduo, que não recebe modificação nesse nível.
Palavras-chave: sintagma binominal, referência; atribuição